A acupuntura é uma abordagem terapêutica que, embora não exclua outras, possui métodos próprios de diagnóstico e tratamento. Sua história na medicina veterinária tradicional chinesa é antiga e fascinante!
Reza a lenda que, na antiguidade, chineses observaram algo curioso: um cavalo que mancava persistentemente foi atingido por uma flecha em um lugar específico, que não o feriu gravemente, mas que, para a surpresa de todos, parou de mancar logo após a remoção da flecha. Isso é folclore, mas é incrível pensar como, em uma época sem exames de imagem sofisticados, vacinas ou testes moleculares, eles associaram esse evento aos cuidados com a saúde e desenvolveram uma terapia tão complexa! Acredita-se que a acupuntura veterinária teve início na Dinastia Shang (2205 a 1766 a.C) com o tratamento em equinos mas hoje atende a todos os animais vertebrados! (Torro, 1997).
Como estudante de acupuntura, tenho me desafiado a “desconstruir” muitos conceitos da medicina ocidental que aprendi na faculdade de veterinária . É um processo contínuo, mas essencial para compreender e aplicar essa nova abordagem terapêutica. O estudo e o conhecimento realmente me fascinam!
Voltando à Valentina, essa gatinha linda foi resgatada de uma grande ninhada. Ela era a menorzinha, a mais medrosa, e até pouco tempo, não permitia nem que sua tutora passasse a mão nela. Vivia escondida e, para complicar, sempre apresentava problemas respiratórios.
Seu nome, Valentina, veio justamente daí: a valente, a de difícil manejo! O apelido jaguatirica fui eu quem deu, porque, acredite, tente fazer qualquer procedimento na Valentina para ver! Eu já saí arranhada, mordida e até mesmo “arrasada” pelo receio de não conseguir oferecer o cuidado que ela precisava. É um desafio e tanto, afinal, se nem a tutora, nem eu conseguimos medicá-la, os cuidados se tornam bem mais difíceis, não é?
Conquistando (e desvendando?) a Valentina
Vamos mergulhar no mundo dos gatos à luz da Medicina Veterinária Tradicional Chinesa (MVTC) e entender como a acupuntura pode cuidar de felinos como a Valentina.
Na MVTC, gatos são intrinsecamente ligados ao elemento Água. Este elemento é representado pelos órgãos Rim e Bexiga (vesícula urinária), e o sentimento a ele associado é o medo. Curiosamente, gatos possuem menos néfrons – as unidades filtradoras dos rins – se comparados a outros mamíferos. Esse fato, por si só, já nos apresenta um desafio ao cuidar deles: a necessidade de tonificar o Rim!
No caso da Valentina, seus constantes problemas respiratórios nos remetem ao elemento Metal. Nele, estão representados os órgãos Pulmão e Intestino Grosso. O sentimento ligado a este elemento também é o medo… e isso se conecta perfeitamente à característica da Valentina de fugir e se esconder, não é mesmo?
É exatamente assim que fecho o diagnóstico e planejo o tratamento da Valentina! Minha charmosa “jaguatirica” precisa tonificar os elementos Água e Metal. Com base nisso, faço a escolha dos pontos de acupuntura mais adequados. É dessa forma que a acupuntura se integra à medicina veterinária. Olhamos para o todo, para a interconexão dos sistemas, e principalmente para o paciente individualmente, buscando equilibrar corpo e mente.
O maior desafio: o manejo da Valentina e a arte da Acupuntura em felinos
Quem é gateiro ou médico veterinário que atende gatos sabe: eles são seres fantásticos, sim, mas também incrivelmente sensíveis e… teimosos! E em uma sessão de acupuntura, a última coisa que quero é estressar e descompensar meu paciente. O manejo é, sem dúvida, o maior desafio.

Com a Valentina, a abordagem é especial. Não usamos a agulha seca tradicional. Em vez disso, aplico moxa de artemísia (Artemisia vulgaris) nos acupontos. A moxa proporciona um calor terapêutico, que é bem aceito por gatos medrosos como ela, oferecendo os benefícios da estimulação dos pontos, desde que não haja contraindicação de seu uso no paciente.
Além disso, quando preciso de uma frente de trabalho complementar, utilizo sinergias de óleos essenciais. Ah, sim! Para muitos, pode parecer apenas um “cheirinho agradável”, mas para mim, é o resultado de muito estudo. Vejo moléculas com funções específicas no organismo, capazes de atuar em conjunto com a acupuntura para promover o bem-estar.
Ver a Valentina progredir e poder ajudá-la me deixa imensamente feliz. Essa busca constante por conhecimento e novas abordagens começou ainda na faculdade, graças à minha MARAVILHOSA professora, Dra. Iracema Barros. Serei eternamente grata por seus ensinamentos. Ela é mais que uma Mestra, é sábia, gentil e minha Doutora preferida em minha jornada profissional!
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Referência bibliografica
Torro, C. A. 1997. Atlas prático de acupuntura no cão. Livraria Vela São Paulo.
Xie, H & Preast, V. 2007. Xie´s veterinary acupuncture. Blackwell Publishing Professional





